segunda-feira, 30 de março de 2015

Tratamento da diarreia


A diarreia pode ser interpretada como um aumento na quantidade de água e eletrólitos nas fezes, levando normalmente à eliminação de fezes mal formadas e não tão consistentes. O desequilíbrio entre a reabsorção e a secreção da mucosa intestinal faz com que as fezes se encontrem liquidificadas1. Pode ser crônica (duração superior a duas semanas), como na intolerância à lactose e na Síndrome do Intestino Irritável, ou aguda (duração inferior a duas semanas), sendo esta causada por agentes infecciosos, fármacos ou toxinas2.

Na maioria das vezes, tal situação ocorre devido ao envolvimento de microrganismos não invasivos, que são especialmente ativos no intestino, causando diarreia aquosa sem febre ou febre muito baixa1, dores abdominais periumbilicais e evacuações aquosas volumosas3. No caso de infecção por bactérias como, por exemplo, através de Escherichia coli enterotoxigênica e Bacillus cereus3, estas não se disseminam além da mucosa intestinal e causam diarreia sem qualquer invasão do epitélio intestinal, através da produção de enterotoxinas que induzem a secreção de fluidos1. Geralmente são auto-limitadas; as complicações decorrem do grau de desidratação3.

Por outro lado, existem outros microrganismos que são invasivos e penetram o epitélio intestinal, dando origem a um distúrbio inflamatório. Os agentes mais freqüentes são: Shigella sp, Salmonella spp, Campylobacter spp,Yersínia spp, E.coli enteroinvasora. O quadro clínico se caracteriza por várias evacuações de pequeno volume com a presença de sangue e muco, associada à febre, dor abdominal e tenesmo. A pesquisa de leucócitos nas fezes é positiva, assim como a de sangue visível ou oculto3.

Na diarreia viral destacam-se os norovirus, rotavirus e astrovirus, enquanto que entre os protozoários a Giárdia é o mais comum1. Também os medicamentos podem ser responsáveis pelo surgimento de diarreia, ao provocarem um desequilíbrio da flora intestinal saprófita. Exemplos de alguns medicamentos são os antibióticos de largo espectro: eritromicina, cotrimoxazol, ampicilina, os anti-hipertensivos: guanetidina e metildopa, diuréticos: furosemida, entre outros. A diarreia surge essencialmente nas primeiras administrações dos respectivos fármacos já anteriormente referidos, resultante do efeito irritante que os mesmos provocam sobre a mucosa intestinal1.

Tratamento

A terapêutica diarréica só deve ser instituída após se ter realizado um diagnóstico etiológico e caso a dieta alimentar e as medidas de suporte como a hidratação e a reposição eletrolítica forem insuficientes1.

Os medicamentos destinados ao tratamento da diarreia disponíveis atualmente podem atuar sobre os microrganismos que causam a diarreia ou sobre o trato intestinal, diminuindo a motilidade ou a secreção ou alterando a sua flora:

• Antibiótico por 5-7 dias está indicado em caso de:
a. Imunocomprometido
b. > 7 evacuações no dia
c. Diarreia com sangue ou muco
d. Diarreia por Shigella, E.coli enterotoxigênica, V cholerae, Ameba e giárdia
e. Salmonelose em <1 ano e > 50 anos ou se portador de prótese articular3.

 Os medicamentos que diminuem a motilidade intestinal (loperamida, Imosec®) devem ser evitados nas diarreias causadas por microrganismos ou toxinas, pois podem retardar a eliminação dos mesmos e propiciar invasão sistêmica2 ( não utilizar na presença de febre ou diarreias com sangue3).

Os probióticos (S. boulardii, Floratil®) são suplementos microbianos que melhoram a função intestinal através da competição com os patógenos por nutrientes e por locais de adesão no intestino, além de produzirem compostos que inibem os patógenos2.

Os antidiarreicos não são indicados para diarreia aguda em crianças por apresentarem riscos elevados e pouco benefício no tratamento da diarreia infantil. Para o tratamento da diarreia aguda em crianças, recomenda-se a terapia de reidratação oral, alimentação balanceada e suplementação com zinco2.

Referências


1. MENDES, A. G. Intervenção farmacêutica em patologias digestivas
com indicação terapêutica de medicamentos não sujeitos a receita médica. 2013. 60f. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2013.
          2. SANTANA, R. J. M. Medicamentos para diarreia: entender as causas para fazer uma boa escolha. Disponível em: <https://cemedmg.wordpress.com/2013/11/21/medicamentos-para-diarreia-entender-as-causas-para-fazer-uma-boa-escolha/>. Acesso em: 20 Mar. 2015.
         3.   Diretriz Diarreia e Infecções Abdominais - Famema. Disponível em:
<http://www.famema.br/assistencial/epidemi/docs/DiretrizDiarreiaeInfecAbdominais.pdf>. Acesso em: 20 Mar. 2015.