terça-feira, 4 de agosto de 2015

ROACUTAN, RISCOS E BENEFÍCIOS NO TRATAMENTO DA ACNE

A acne é uma dermatose que provoca o surgimento de cravos, espinhas, cistos, caroços e cicatrizes. A acne se desenvolve quando os poros da nossa pele ficam obstruídos, causado pelo excesso de sebo, células mortas e bactérias nos folículos pilo sebáceos. Nosso corpo produz mais sebo quando há aumento da atividade hormonal, por isso a acne é mais frequente em adolescentes, pessoas com distúrbios hormonais, mulheres no período da menstruação, devido à flutuação hormonal, ou quando atingem a menopausa. Quando a acne se manifesta de forma intensa, pode prejudicar a qualidade de vida e a autoestima1.



Isotretinoína, uma substância derivada da vitamina A, é o princípio ativo do Roacutan, um medicamento de uso oral, indicado no tratamento de formas graves de acne, como a acne nódulo- cística, conglobata, em casos de acne com risco de cicatrizes permanentes e também em quadros de acne resistentes a terapêuticas anteriores, incluindo antibióticos sistêmicos e agentes tópicos. A melhora clínica da acne grave está associada à supressão da atividade e diminuição do tamanho das glândulas produtoras de sebo 2.

A isotretinoína é contra-indicada nos seguintes casos: mulheres grávidas ou que possam ficar grávidas durante o tratamento, a menos que essas pacientes satisfaçam todos os critérios de contracepção exigidos, mulheres no período de lactação; hipervitaminose A preexistente; pacientes com valores lipídicos sanguíneos excessivamente elevados; pacientes com insuficiência hepática. A isotretinoína contém óleo de soja parcialmente hidrogenado, portanto, está contra-indicada a pacientes alérgicos à soja3.

Roacutan é teratogênico, provocando anomalias fetais, havendo clara evidência de risco para o feto maior que qualquer benefício possível para a paciente. Antes de iniciar o tratamento, deve ser realizado teste de gravidez antes da introdução de método contraceptivo, e os resultados devem ser documentados. O teste de gravidez também deverá ser realizado durante a consulta para início do tratamento ou três dias antes, para excluir a possibilidade de gestação quando se inicia a medicação. As pacientes devem ter iniciado os métodos contraceptivos no mês anterior. Retornos mensais devem ser realizados. O teste de gravidez deverá ser realizado no dia da consulta ou três dias antes da visita ao médico. No final do tratamento, após cinco semanas do término do tratamento, o teste de gravidez deverá ser realizado para excluir gestação4.

Alguns cuidados são essenciais durante o tratamento: uso de filtro solar, pois a pele fica mais sensível ao sol; uso de umectantes labiais para evitar rachaduras; usuários de lentes de contato podem necessitar de lubrificantes oculares com maior frequência; não tomar antibióticos do tipo tetraciclina ou seus derivados devido à possibilidade de surgirem efeitos colaterais resultantes da interação entre os medicamentos; o remédio deve ser ingerido após as refeições; não ingerir bebidas alcoólicas durante o tratamento; orientações alimentares para controle dos níveis do colesterol e triglicerídeos devem ser seguidas. Embora uma relação causal não tenha sido estabelecida para distúrbios psiquiátricos, cuidados especiais devem ser tomados em pacientes com história de depressão e todos os pacientes devem ser supervisionados quanto à ocorrência de sinais de depressão e encaminhados para tratamento apropriado, caso necessário5.

Desta maneira, o tratamento da acne com a Roacutan é geralmente seguro, desde que seja adequadamente acompanhado pelo médico. Seus efeitos colaterais são bem conhecidos e podem ser controlados através de exames que devem ser solicitados pelo dermatologista responsável pelo tratamento e de acordo com a evolução do paciente.


REFERÊNCIAS:


1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA – SBD. Acne. São Paulo. Disponível em:
< http://www.sbd.org.br/doencas/acne-2/>. Acesso em: 20/04/2015.

2. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Brasília. Bulário Eletrônico. Roacutan. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=2661972015&pIdAnexo=2536298>. Acesso em: 20/04/2015.

3. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Brasília. Bulário Eletrônico. Isotretinoína. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=10467602013&pIdAnexo=1899558>. Acesso em: 20/04/2015.

4. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Brasília. Bulário Eletrônico. Roacutan. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=179342014&pIdAnexo=1932188>. Acesso em: 20/04/2015.5. Dermatologia Net. Isotretinoína e Acne. Disponível em: <http://www.dermatologia.net/novo/base/noticias/art_isotret.shtml>. Acesso em: 20/04/2015.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Tratamento da diarreia


A diarreia pode ser interpretada como um aumento na quantidade de água e eletrólitos nas fezes, levando normalmente à eliminação de fezes mal formadas e não tão consistentes. O desequilíbrio entre a reabsorção e a secreção da mucosa intestinal faz com que as fezes se encontrem liquidificadas1. Pode ser crônica (duração superior a duas semanas), como na intolerância à lactose e na Síndrome do Intestino Irritável, ou aguda (duração inferior a duas semanas), sendo esta causada por agentes infecciosos, fármacos ou toxinas2.

Na maioria das vezes, tal situação ocorre devido ao envolvimento de microrganismos não invasivos, que são especialmente ativos no intestino, causando diarreia aquosa sem febre ou febre muito baixa1, dores abdominais periumbilicais e evacuações aquosas volumosas3. No caso de infecção por bactérias como, por exemplo, através de Escherichia coli enterotoxigênica e Bacillus cereus3, estas não se disseminam além da mucosa intestinal e causam diarreia sem qualquer invasão do epitélio intestinal, através da produção de enterotoxinas que induzem a secreção de fluidos1. Geralmente são auto-limitadas; as complicações decorrem do grau de desidratação3.

Por outro lado, existem outros microrganismos que são invasivos e penetram o epitélio intestinal, dando origem a um distúrbio inflamatório. Os agentes mais freqüentes são: Shigella sp, Salmonella spp, Campylobacter spp,Yersínia spp, E.coli enteroinvasora. O quadro clínico se caracteriza por várias evacuações de pequeno volume com a presença de sangue e muco, associada à febre, dor abdominal e tenesmo. A pesquisa de leucócitos nas fezes é positiva, assim como a de sangue visível ou oculto3.

Na diarreia viral destacam-se os norovirus, rotavirus e astrovirus, enquanto que entre os protozoários a Giárdia é o mais comum1. Também os medicamentos podem ser responsáveis pelo surgimento de diarreia, ao provocarem um desequilíbrio da flora intestinal saprófita. Exemplos de alguns medicamentos são os antibióticos de largo espectro: eritromicina, cotrimoxazol, ampicilina, os anti-hipertensivos: guanetidina e metildopa, diuréticos: furosemida, entre outros. A diarreia surge essencialmente nas primeiras administrações dos respectivos fármacos já anteriormente referidos, resultante do efeito irritante que os mesmos provocam sobre a mucosa intestinal1.

Tratamento

A terapêutica diarréica só deve ser instituída após se ter realizado um diagnóstico etiológico e caso a dieta alimentar e as medidas de suporte como a hidratação e a reposição eletrolítica forem insuficientes1.

Os medicamentos destinados ao tratamento da diarreia disponíveis atualmente podem atuar sobre os microrganismos que causam a diarreia ou sobre o trato intestinal, diminuindo a motilidade ou a secreção ou alterando a sua flora:

• Antibiótico por 5-7 dias está indicado em caso de:
a. Imunocomprometido
b. > 7 evacuações no dia
c. Diarreia com sangue ou muco
d. Diarreia por Shigella, E.coli enterotoxigênica, V cholerae, Ameba e giárdia
e. Salmonelose em <1 ano e > 50 anos ou se portador de prótese articular3.

 Os medicamentos que diminuem a motilidade intestinal (loperamida, Imosec®) devem ser evitados nas diarreias causadas por microrganismos ou toxinas, pois podem retardar a eliminação dos mesmos e propiciar invasão sistêmica2 ( não utilizar na presença de febre ou diarreias com sangue3).

Os probióticos (S. boulardii, Floratil®) são suplementos microbianos que melhoram a função intestinal através da competição com os patógenos por nutrientes e por locais de adesão no intestino, além de produzirem compostos que inibem os patógenos2.

Os antidiarreicos não são indicados para diarreia aguda em crianças por apresentarem riscos elevados e pouco benefício no tratamento da diarreia infantil. Para o tratamento da diarreia aguda em crianças, recomenda-se a terapia de reidratação oral, alimentação balanceada e suplementação com zinco2.

Referências


1. MENDES, A. G. Intervenção farmacêutica em patologias digestivas
com indicação terapêutica de medicamentos não sujeitos a receita médica. 2013. 60f. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2013.
          2. SANTANA, R. J. M. Medicamentos para diarreia: entender as causas para fazer uma boa escolha. Disponível em: <https://cemedmg.wordpress.com/2013/11/21/medicamentos-para-diarreia-entender-as-causas-para-fazer-uma-boa-escolha/>. Acesso em: 20 Mar. 2015.
         3.   Diretriz Diarreia e Infecções Abdominais - Famema. Disponível em:
<http://www.famema.br/assistencial/epidemi/docs/DiretrizDiarreiaeInfecAbdominais.pdf>. Acesso em: 20 Mar. 2015.